quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Entrevista: Carlos Alexandre Monteiro

Faz pouco mais de um ano que o seriado Lost terminou. Alguém se lembra? Eu me lembro bem da loucura que era ver a série. Foi um experiência.

Se você perdeu a série, até vale ir atrás das reprises ou dos DVDs, mas eles não vão reviver o que foi ver a série enquanto ela era exibida. Cada episódio de Lost nunca terminava no próprio episódio. A série seguia viva por fóruns, blogs, podcasts, livros, curtas e até uma enciclopédia!

E o curioso era que boa parte do material não era oficial. As melhores coisas eram feitas por fãs, pessoas que até o momento sabiam o mesmo tanto que você sobre a série. Quantas teorias melhores que as desenvolvidas na série não surgiram por aí. É de se pensar.

Esse conceito de Lost dialogava diretamente com a questão recente das novas mídias. O que era televisão, o que era de fã, o que valia, oque não valia? Quem rever a série pode muito bem curtir ela sem isso, mas quem atravessou temporada por temporada na internet aprendeu muito sobre essa nova linguagem por conta do seriado.

Meu entrevistado, Carlos Alexandre Monteiro estava bem no meio dessa confusão. Ele era autor do blog Lost in Lost, que figurava na capa do G1, durante a época de exibição do seriado. Era ali que ele destrinchava cada episódio com comentários, especulações, podcasts e tudo que qualquer fã precisava saber enquanto não tinha um episódio novo para assistir. E pode apostar que eles queriam. Não são raros os posts que ultrapassam 100 comentários. A média mensal de visita era de 300 mil acessos.

Leia a conversa com Carlos Alexandre Monteiro sobre seu trabalho no blog sobre lost e suas considerações sobre novas tecnologias, blogs, redes sociais e tecnologia.

Vinicius: De onde surgiu a iniciativa de cobrir a série? É uma característica das novas tecnologias dar essa possibilidade a qualquer pessoa? Lost foi um exemplo com tantos blogs feitos por fãs, não?

Eu fazia uma coluna dentro de um blog sobre Lost, o Dude, We Are Lost. Um dia, fui um dos entrevistados pelo Globo para uma matéria sobre a série. Uma gerente da Globo.com leu essa matéria e me convidou para ter meu próprio blog sobre Lost dentro do portal. E assim foi.

Sobre a profusão de blogs sobre séries, penso que não tenha sido uma exclusividade dos fãs desse tipo de programa. Na verdade, entendo que seja parte de um movimento surgido justamente por conta das facilidades tecnológicas, que democratizaram a produção e o compartilhamento de conteúdo.

Lost tinha um caráter multimídia que favorecia isso, não?

Concordo. A série soube explorar bem a internet como pilar de sua estratégia transmídia, com ARGs, podcasts, videocasts... Junte-se a isso toda uma trama de mistério, onde qualquer detalhe parecia importante para se desvendar os segredos da história e pronto: o público se sentiu mais do que instigado a falar da série.

As novas mídias descentralizam as informações ou são muito repetitivas?

Tudo, sempre, depende de quem conta a história - seja ela o lançamento de uma banda ou uma trama de fato ou o objeto da comunicação. Acho que muita gente já sacou que o interessante é desenvolver essa comunicação de formas diferentes em cada espaço e que, juntas, podem formar um todo bem rico e interessante.

Agora você mantém um blog de cultura pop, porque seguir criando conteúdo de formar independente?

Porque sinto vontade de opinar e de compartilhar. Infelizmente o tempo tem sido um forte limitador, mas acho que os que acompanham o Tudo Está Rodando já entenderam o meu ritmo complicado, heh...

E ainda tinha os podcast. Dominar diversas linguagens é um necessidade profissional das novas mídias?

Acho que qualquer profissional de qualquer área tem que ter um grau de multidisciplinaridade, e isso é especialmente ressaltado na área de comunicação.

Essa independência é uma força ou você considera que blogs só ganham audiência associados a grandesportais? O Lost In Lost teria ido bem se não estivesse na home do G1?

Fica difícil dizer com exatidão, mas não dá pra negar a força que tem o suporte de um portal de conteúdo. Porém, outros tantos blogs sobre Lost, como o Teorias Lost e o Dude, We Are Lost provam que sim, é possível fazer excelentes e reconhecidos blogs de forma 100% independente.

Dos mais novos produtos tecnológicos você tem obsessão por algum aparelho ou serviço?

Eu adoro meu iPhone. Dentre as novas redes sociais, uma relativamente recente é o Foursquare, e tenho carinho especial por ela. O GetGlue também tem uma proposta interessante.

E pelas rede socias? Por que vc acha que as pessoas gostam tanto de compartilhar suas vidas. Você é um usuário ativo ou mais recluso?

Além do exibicionismo (em maior ou menor grau) de muita gente, acho que as pessoas gostam de compartilhar suas vidas porque foi dada a elas a chance de terem, ao produzirem conteúdo, atenção coletiva em boa escala. Na verdade, não deixa de ser uma replicação online de uma prática off. Afinal, todos conhecemos pessoas que amam mostrar para as demais as suas casas, as fotos dos filhos, contar o que andam ouvindo etc.

Uso as redes sociais produzindo e compartilhando conteúdo com regularidade, mas não de forma frenética. E aí vai mais uma replicação da antiga vida offline: o comportamento ideal numa rede social, pra mim, é papo de bar. É não encher o saco dos outros falando só de si, comentar quando sente vontade de interagir de verdade e não por exibicionismo e por aí vai.

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Extras. Não é só Lost que é transmídia. Veja os trabablhos do Carlos:

Blogs: O Lost In Lost e o Tudo Está Rodando, blog de cultura pop do Carlos

Podcast: Ouça o podcast de despedida do Lost In Lost:

Podcast Lost in Lost #100 by Carlos Alexandre Monteiro

Vídeos: Ombrelone

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